1 de setembro de 2009

IOSIF LANDAU




Delmore Schwartz, poeta e contista americano, foi professor de Lou Reed — o roqueiro repórter literário do submundo — na Universidade de Syracuse, nos Estados Unidos. Uma vez, ao fim de uma aula, Delmore disse a Lou: "Você sabe escrever. E se algum dia você vender bem, e se houver um paraíso aonde possa ser assombrado, eu vou te assombrar". Quando Delmore morreu, em 1966, o jovem Lou esteve presente ao funeral do poeta.Muitos anos depois, Lou Reed escreveu uma música em que conta que, ao mudar com a mulher para uma nova casa, se depara com um tabuleiro em que letras formaram ao acaso o nome D-E-L-M-O-R-E. Ao invés de se assustar com a presença do fantasma, Lou se inspira por ela. Eu não pude ir à cremação de Iosif Landau, estava viajando a trabalho. Iosif nasceu na Romênia em 1924, chegou ao Rio em 1940 e se naturalizou brasileiro em 1946. Formou-se em engenharia em 1949 e viajou muito pelo Brasil no exercício da profissão. Depois de aposentado, em 1993, Iosif começou a escrever. Escreveu poemas e três romances policiais, Comissário Alfredo, Os Anjos Também Morrem e O Diabo Vestia Seda. O comissário Alfredo, personagem alter-ego de Iosif, é um típico policial hard boiled à moda dos detetives durões da literatura noir americana clássica, na linhagem de Hammet e Chandler, com toques da literatura beat, outra de suas influências marcantes. Livros gostosos de ler, na escrita viril e durona de Iosif. Conquanto o comissário Alfredo seja meio casca-grossa, sem papas na língua, Iosif era um cavalheiro. Sempre o encontrava no clube que frequento aqui em Ipanema. Minha simpatia por ele foi imediata, Iosif usava cabelo comprido, tatuagens pelo corpo, e tinha um ar transgressor que me lembrava um poeta beat. Algum companheiro desgarrado de Jack Kerouac que terminou de sunga, tomando sol numa piscina em Ipanema.Iosif trazia no rosto a tristeza silenciosa dos poetas. Nossas conversas nunca eram muito longas, mas havia entre nós um entendimento sólido que talvez só as palavras de um poeta possam explicar. "Mais nada para ser dito e mais nada para ser chorado, só os seres no Sonho agarrados ao desaparecerem", diz Allen Ginsberg num de seus poemas. Éramos companheiros, à nossa maneira. Quando voltei de viagem, e fui informado de que meu escritório estava com um vazamento d'água no teto, fiquei preocupado. Meus livros, pensei. Corri ao escritório. A água vazada no teto adquirira a forma de letras esparsas. Uma palavra? Um nome: I-O-S-I-F. Como Lou Reed, em vez de me assustar com a presença do fantasma, me inspirei por ela.
Livro…… O Comissário Alfredo, de Iosif Landau.
CD……Blue Mask, de Lou Reed, em que se pode ouvir a faixa My House,em homenagem a Delmore Schwartz.



Por Tony Bellotto

Um comentário:

Isaias de Faria disse...
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