26 de novembro de 2010

Terceira Revolução Industrial

Ele queria o futuro ontem.
Ficou boquiaberto com o presente.
Caos corroendo agora.

25 de novembro de 2010

Redenção

Incenso sobe aceso
Buquê de nuvem
escancara
Madalena ávida
Espera Cristo penetrar
Caverna grampa
Milagre em ideograma

Transposição

Explorar o cume
além jardim
o homem dorme

22 de novembro de 2010

CLIQUE


riscar o invisível
no meio do nada
ir além 

18 de novembro de 2010

Vamos pegar um jagaré na praia central? Ou na praia de Itajuba?

ZAUNS SOLARES


SOL SÓ SOU
SIBILA SILVO SUTRA
SAGA SACRO SIDARTA

SIGO SAPO SANTO
SOBRA SOLARES SAÍDA
SURGE SUL SILVESTRE

Nova profissão?


Adestrador de nuvens

15 de novembro de 2010

Ar

estrangulo o tempo
motivo de vida
passagem e nada

LERO - LERO COM TAVINHO PAES, em janeiro de 2007 no Rio de Janeiro


Dá esquerda p/ a direita: Ricardo Wagner, Tancredo Borges "Quedo"  (em pé),


Tavinho Paes, Cássio Amaral e  L. Rafael Nolli



O HOMEM DA POESIA AUDIO-VISUAL



Estivemos na casa de Tavinho Paes, eu Cássio Amaral, Rafael Nolli, Ricardo Wagner e Tancredo Borges e rolou este lero lero:





Tavinho Paes: Esse ano vou me dedicar à poesia na função de audiovisual.

Quero colocar um programa de poesia na televisão. Nem que seja à cabo. Vou botar na televisão!

Já estou fazendo isso pelo YOUTUBE. São cinqüenta e dois vídeos do POESIA VOA que vão subir igual uma televisão. Toda semana eu boto três novos que vão substituindo os anteriores. Vocês podem sacar em casa, ou onde vocês estiverem. Para as pessoas verem como é um Festival de Poesia. E que toda cidade de uma forma ou outra deve e pode fazer um festival de poesia. É uma bobagem. Mas a bobagem só pode ser feita quando você descobre como fazer o evento. Primeiro faz o evento, depois o evento local toma forma.

Parece fácil reunir os amigos, aliás é fácil demais no primeiro dia. No segundo dia já tem uma queda. E se você não souber qual a linha que vai utilizar pra manter o canal ativo, porque se não souber você se enrola e acaba o evento, porque ele tem um momento de alto, de baixo e depois se estabiliza. Quando ele estabiliza você já aprendeu todas as regras para mantê-lo. E por mais que tenha colaboração de um amigo, por mais que ele empreste . Tem coisa que não está orçamentada. Aí tem que chamar o profissional e não dá pra contar só com o amigo. Aí tem mil maneiras de avaliar o evento.



Cássio Amaral: Tavinho qual a diferença do que está rolando no Rio e em São Paulo?



Tavinho Paes: Em São Paulo ocorre com um debate, abre com um debate e depois alguns poetas recitam alguma coisa.



Cássio Amaral: No Rio é mais oral?

Ricardo Wagner: Em São Paulo tradição é mais escrita não é?



Tavinho Paes: É o Rio é mais oral. Mas os eventos de São Paulo São muito bonitos. Agora com a chegada do audiovisual já estão parecendo os pockets. Em São Paulo você tem um evento de poesia muito forte que é o Batidão que vira a madrugada, cinco da madrugada tem bêbado recitando lá.

Já fizeram uma reportagem sobre o Batidão, nunca ouviram falar?

Já está criando um intercâmbio, tem dois poetas de lá que foram convidados pra virem recitar aqui.

Tacredo Borges: Batidão? Vem da Bebida, a batida?

Tavinho Paes: É isso.

Tem muito poeta que escreve um puta poema, mas não sabe recitar.

Se você explicar pra ele que ele vai ler o poema e que uma pessoa que saca de performance vai interpretá-lo depois. Fica muito mais bacana.

E ele vai ter o momento dele também.

Você observa isso muito aqui no Rio de Janeiro. As pessoas não prestam atenção em nada. Elas só querem que chegue a hora delas, pra que elas falem seus poemas.

Isso você vai ver no evento que vocês forem realizar.

Você vai identificar o egoísta....



Tem um poema muito bom que diz assim:



A praça é do povo

Menos o palanque e o microfone

Se você abrir o palanque

Os que querem mostrar a bunda

Sobem nele correndo

Agora se você abrir o microfone

Chame a tropa policial que vai ter porrada.



Porque no microfone você dá a sua opinião.

O evento da poesia falada como uma coisa entre as pessoas é nova e contemporânea, ela está nascendo no final dos anos 90 mas ela se impõe depois da virada do século nos anos de 2001, 2002, 2003 até 2007. Se agente lembrar que o rock demorou oito anos pra chegar, nós estamos chegando. E vai chegar o grupo que está há mais tempo. Um com mais técnica. O outro com menos técnica. Então é o momento de dar os WORKSHOPS.

Na poesia você começa a se interessar pelo passado, você começa a descobrir sua História. De repente uma pessoa que tem isso dentro dela com um WORKSHOP pode se tornar numa estrela. São descobertas que você já sabia, mas que não dava importância.

Fiz um evento em Manaus que foi maravilhoso. Foi tão bom que vão me contratar de novo. Aí vou poder dividir o espaço. Chamar uma Patrícia Carvalho Oliveira, que é uma pessoa que tem um treinamento na escola de mímica da Inglaterra. Ela é a poesia em movimento.

Ela recita um puta poema fazendo movimentos.

Ela é precisa.

Isso tudo com uma lanterna e um apito.

Ela tem a técnica e cria um mundo de ilusão na sua frente.

Vocês vão perceber que num evento sempre rola aquele que quer fazer sozinho, quer dar um show à parte, que é egoísta, quer aparecer.

E quando começar os atritos aí começa o evento.



Rafael Nolli: E a oposição?



Tavinho Paes: A oposição é boa, o debate é bom. Desde que seja de alto nível.

No evento você vai perceber que aquele que você achava que era seu melhor amigo vai dizer:



_ Porra cara isso tá por fora!



Isso vocês vão perceber porque a linguagem da poesia estimula uma coisa atávica que não é comum. Você vê isso na política.

Mas na política as regras são claras, mesmo que você passe por cima delas.

Você vê o adversário. Pode-se fazer acordos.

Na poesia não tem idéias é anterior das idéias, antes da Filosofia.

É coisa de maluco. Dois malucos querendo ver quem é mais maluco.

Você vai ver que a pessoa está com raiva porque o que ela gostaria de fazer é o que você está fazendo. Ela deveria achar maravilhoso mas não ela fica com inveja, com raiva.



Ricardo Wagner: E a pessoa não sabe nem o que você está defendendo.



Tavinho Paes: De qualquer maneira passou a ser elegante ganhar o título de poeta. É um título nobiliárquico. Antes era associado a vagabundo, agora parece que é uma coisa especial.



Ricardo Wagner: Condecoração.



Tavinho Paes: Eu tenho amigos que dizem:

_ Mas você sabe, eu sou poeta ... Na verdade ela gosta mais do título do que fazer poesia. Ele nem precisava ter me comunicado que era poeta. Eu já sabia.

Agora tem o rap.

O rap vem ganhando espaço. Eles estão começando aparecer nos eventos de poesia convencionais. E aí você vê os neguinhos falarem grosso e com alta performance.

Eu vou fazer agora dia 25 e 28 duas palestras e um Workshop só pra djs, mcs no Camarim. Onde nós trabalhamos no festival dos direitos humanos com pessoas da comunidade (favela). Só pra dar umas técnicas como você chega no assunto. Não vou ensinar os caras fazerem poesia porque os caras já sabem.

Para que você comece a criar uma cadência de três, quatro poemas que formem um trabalho. A visão estética, como você trabalha a visão estética. Como você vê o mundo. Você pode não ter um centavo, mas você não é pior nem melhor que eu, nem que o milionário e as outras pessoas. Só que as maneiras de ver o mundo são diferentes, não complementares, nem adjacentes. São Maneiras diferentes.

A tendência é de as pessoas se excluírem. O trabalho da poesia pode ser com que elas se incluam.

A poesia burguesa tem o problema, porque você gosta de bossa nova e acha o resto ruim. Acha Vinícius de Morais o maior poeta do mundo porque fala do amor, do caralho. Foda-se!

Agora tem alguém que não fala de amor porra nenhuma. Ele é um garoto jovem cospe palavrão na sua cara e aí você não quer mais falar com ele.

Mas esse cara o Vinícius de Moraes beberia com ele e conversaria muito.

A linguagem da poesia se torna uma inclusão social das mais positivas e das mais eficazes.

Nas artes plásticas o artista está preso num campo, numa tendência. Já na poesia se você colocar muitos poetas eles se abraçam. Um vai achar que a poesia do outro é uma alteração de linguagem. O estilo diferente, sabe isso cria um espaço de inclusão.

Nós estamos tão na contramão que o show business criou o maior espaço de exclusão que é a área VIP, que tem toda uma segurança, para que alguns privilegiados vejam de perto. E esse local é bancado por uma empresa que ganha muito dinheiro. Ela está alugando seu lazer, que dentro do mercado de trabalho você é livre, o tempo pra você usar. Você vai ter lazer mais dentro do espaço dela. É uma loucura completa. Tem muita comida. A máquina da festa popular é a comida. Cachorro quente.



Cássio Amaral: Nem me fale em cachorro quente! (peguei intoxicação alimentar)



Risos geral.



Tavinho Paes: Tem carrinho de cachorro quente que o cara chegou ao luxo de ter mostarda de Dijon. Se você vê a produção de salsicha você não come mais salsicha.

O queijo de Minas não tem igual. Você vai na França não tem igual ao de Minas. E nunca pensaram em fazer do queijo uma coisa que foi feita como o queijo da França. A cachaça que começaram a fazer isso agora.

Tavinho Paes nos mostra um litro de cachaça da Serra.

Estão achando o Marketing da cachaça.

O bom é o vinho Italiano. Pode botar que é um golaço.

Mas quem soube fazer o Marketing foi o francês com o vinho francês e os s queijos podres deles.



Cássio Amaral: E a vanguarda, o que você acha disso?



Tavinho Paes: Já foi a época. Tem pessoas com organizações e pensamentos avançados mas que não estão interessados em público. São mais interessados em verbas institucionais. Estudo, pesquisa...

Tem o Eduardo Kac começou com a poesia pornô e hoje está numa universidade americana e trabalha com poesia holográfica. Já está com três livros, mas não é o que estamos falando.

É um negócio ligado numa corrente de 200 walts com gerador dançando e fazendo poesia. Poesia visual.

Já é uma outra coisa, uma espécie de linguagem avançada.

Aí você tem música, balet e a poesia falada. John Cage. Os poemas de John Cage. Aí entendi o que é poesia visual.



Tavinho Paes nos mostra seus álbuns de poesia em movimento, com balet do ano de 2000 na Inglaterra. E nos mostra o teatro onde a Patrícia atuou.

Nos diz como o audiovisual está em alta lá fora.



Tancredo Borges: Antes tinha o Dj, hoje é Vj. O que você acha do vj?



Tavinho Paes: Hoje em dia numa boate americana ou em Londres o Vj é fundamental. Às vezes mais fundamental que o Dj.



Tavinho Paes nos mostra seu álbum com poesia visual. Uma delas é feita com holografia que dançava com as pessoas com um som serial e eram vozes falando e recitando poesia.



Tavinho Paes: Quando eu vi isso aqui eu falei: Caralho! Isso foi em 2000. Aí quando voltei pro Brasil em 2001 eu comecei a entrar mesmo de cabeça.

Porque a poesia não se divulga bem. Eles não te fotografam.



Tancredo Borges: Você já morou fora?



Tavinho Paes: Já. Morei em Paris e Nova York . E não é morar rico não. Eu tinha que trabalhar. Eu vendi poesia em Nova York. É uma sorte vocês virem em época de mudança que as coisas que estavam perdidas aparecem.

Isso aqui é um original de uns livrinhos que eu fiz em Nova York. E vendia na rua. Olha, uma única folha de poesia. Chegava numa máquina de xerox tirava frente verso, cortava aqui, cortava ali. Juntava um, dois, três, quatro por um dólar. Tudo em inglês, escrito em inglês. E tinha livro de uma única página. Colocava as figuras de revista para ilustrar meus poemas. Quando em cheguei em Nova York parei de fazer os livros grandes e fazia os mínimos, que eram os que mais vendiam. Rapidamente absorvidos.



Tavinho Paes nos mostra mais livros que ele produziu.



Tavinho Paes nos mostra seus cds produzidos por ele. E presenteia um para o Centro Universitário de Araxá. E nos presenteia alguns também com o jornal Poesia Voa publicado por ele.



Tavinho Paes: Aproveitem e passem pela praia. Está tendo um sarau noturno, uma Rave Noturna da poesia. Chacal deve estar lá.





Tavinho Paes: Sabe como eu digo feliz ano novo.



Cássio Amaral: Não.



Tavinho Paes: Se um 007 (zero zero sete) é foda. Imagina (dois zero zero sete) 2007. ( James Bond)



Risos.



Bibi (amiga de Tavinho): Agora sou eu que vou dar meu depoimento.

Nicos Boleros dessa época. Nós trabalhávamos na casa de Odere Lápio, lembra?



Tavinho Paes: Exatamente. Dali que saiu Totalmente Demais. Saiu Noite vai ter lua cheia (canta).



Bibi: Na época poesia era tido como coisa de vagabundo ... Foi aí que veio Cazuza, Marina. Eles gravaram Tavinho.



Tavinho Paes: As músicas nasceram como se nós brincássemos com a linguagem. Tinha o Circo Voador, o Cazuza.



Tavinho Paes: Isso, era época de 80. E o que está acontecendo hoje tem vinte anos que eu já fazia.



Rafael Nolli: Hoje está popularizado bastante, mas é um processo que vem de muito antes.



Tavinho Paes: Por isso a idéia de começar com um pequeno evento.



Tavinho nos mostra um trabalho seu que é um poema da sua imagem no jornal POESIA VOA. Um trabalho que já faz a muitos anos. Fotos suas tirando a barba e cortando o cabelo até ficar careca. No outro número do jornal é o contrário. E ressalta que aí é outro papo. E tem ele com os cabelos e barbas grandes. Disse que vai fazer um novo evento onde pintará os cabelos.

Pega seu cabelo grande que ele guarda e nos mostra. Diz que o usava quando morava em Londres. E pintava os seus quadros com o cabelo dele. O pincel era a própria cabeça do artista.

Chicoteava e pintava com o cabelo. Nos mostra seu livro que é pintura com o cabelo, parece estilhaços. Pintura feita com cabelos.



Tavinho Paes: Se você usar é arte moderna. É a pintura feita pela cabeça do pintor. Eu guardei o cabelo. Nos mostra o cabelo.

(E tiramos uma foto com os maços de cabelo do Tavinho).



Tavinho Paes: Agora vocês vão ver uma coisa mais louca.



Rafale Nolli: É arte corporal.



Tavinho Paes: As pinturas com o cabelo com o passar do tempo corroeram.



Tancredo Borges: Cara, isso dá até tese de mestrado.



Tavinho nos mostra um fita de vídeo tape. Disse que estava separando. Uma raridade. E não existe uma máquina para reproduzi-la hoje.

Aqui tem Claudia Ohana com dez anos quando entrou nua na banheira dos meus filhos.



Tavinho Paes: Quando eu for em Araxá eu posso ir com o Arnaldo Brandão.



Tancredo Borges: Ele tocou lá na época de 80 com o Hanoi Hanoi.



Tavinho Paes: Eu quero fazer o: DOIS ÃO E UM, com o Lobão e o Arnaldo Brandão. Minhas músicas com eles.



Tavinho Paes: Hoje a educação está indo pro PDF. Dá pra baixar vários livros e colocar até figuras.

Nos Estados Unidos começaram a juntar os cantores de rap com os poetas em programa tipo Talk Show e isso em programa de televisão por assinatura. Começou com cem, duzentos assinantes e foi aumentando. Aí entrou e cada vez mais gente assinando. Daí você pode ver que a poesia pode vingar. E olha que nosso movimento aqui no Rio e muito melhor que isso. Tem vários eventos, o Cep 20.000 do Chacal, o Poesia Voa. Aqui no Rio rola também a poesia no Beco dos Ratos na Lapa perto da casa onde morou o Manuel Bandeira. Perto da Glória.

Esse evento que eu faço também tem cinema, tem audiovisual. Dá pra pessoa ver, sacar e se inteirar também. E um evento de poesia no final, com um Worshop de poesia. Isso é cineclube com poesia. Nós só fizemos em faculdades até agora.

Em Caxias do Sul fizemos um evento numa cidade satélite, cidade rural. Fomos lá e foi sucesso total.



Tancredo Borges: Você está com um cd com suas músicas?



Tavinho Paes: Tenho sim.( Nos mostra sua produção em cds)

Todas minhas coisas, letras, músicas saíram dos meus panfletos como Totalmente Demais e outras mais. Generosamente nos presenteia com um cd do Baixo Leblon, onde tem a história das músicas.



Cássio Amaral: Você acha que essa coisa da poesia marginal é o que deu a base do que está rolando hoje no Brasil? Principalmente em termos musicais, ou dessa arte já inter- relacionada?



Tavinho Paes: É isso. Basicamente isso. Os eventos dos anos setenta que não estão documentados. Você tem livros sobre a História da televisão nos últimos 30 anos. Você tem livros da história do teatro nos últimos 30 anos. Mas falta livros pra documentarem a História da poesia. E na poesia parece que não aconteceu nada.



Tancredo Borges: Estranho.



Tavinho Paes: É estranho, complicado mas politicamente inteligível.

A poesia está andando na contramão do show bisiness. O que o show bisiness prevê ela faz o contrário. Você faz um evento com show bisiness você precisa ter um milhão de pessoas, com poesia diante de um milhão de pessoas é dificílimo passar a mensagem. É o contrário da bilheteria.



Tancredo Borges: Seria importante rever isso.



Tavinho Paes: Seria importante estudar isso.



Cássio Amaral: Você chegou a conhecer o grupo Frenesi?



Tavinho Paes: Claro, tenho até os livros deles da época. (nos mostra os livros)

Isso aqui era um almanaque. Biotônico Vitalidade do pessoal Nuvens Ciganas, estão todos aqui ainda, vários já morreram. Tem aqui Chacal, Nanico, Flajardo... Foi uma turma, isso era a grande publicação de luxo da época marginal. Tá aqui o primeiro exemplar Me segura que eu vou dar um troço do Waly Salomão. (nos mostra). (Nos mostra Polonaises do Leminski com autógrafo). Estão descobrindo livros como estes e recondicionando. O primeiro livro da Ana Cristina Cezar.



Cássio Amaral: Que bacana.



Tavinho Paes: É o primeiro livro dela , chama Luvas de Pelica. Não é chocante ver estas coisas antigas?



Cássio Amaral: É arrepiante. Risos.



Tavinho Paes: É por isso que eu estou te dizendo. Há um mistério nisso aqui. Ninguém ganhou dinheiro com esse negócio.

Este é o segundo livro de Ana Cristina Cezar. Ela tinha um grupo que a apoiava melhor.

A coleção Pedro Lage.

Esse aqui é Nuvem Cigana.



Tancredo Borges: Davi!



O Paulo Leminski ao autografar o livro para Tavinho colocou Davi, ele entendeu o nome errado. Risos.



Ricardo Wagner: Ele devia estar no efeito etílico do Cássio.



Risos geral.



Tavinho Paes: Com certeza. Risos.



Cássio Amaral: Putz, já basta ontem que foi o beleléu.



Risos.



Tavinho Paes: Olha, isso aqui foi a primeira coleção do Frenesi. Tinha uma coisa em comum, uma capa...



Rafael Nolli: É um material que reflete bem a época. É uma questão da academia valorizar.



Tavinho Paes: É, agora várias teses estão sendo feitas em cima da poesia marginal. Às vezes um cara me liga dizendo estou terminando a tese da poesia da época. Mas sempre incorrem no mesmo problema. Elegem dois ou três poetas e esquecem do contexto, dos outros que também participaram. Porque o negócio era mais amplo, você não sabia quem era quem.



Cássio Amaral: E as confrarias de hoje?



Tavinho Paes: Elas nos deixam num gueto. Hoje é tudo um bando de gueto.

Mas isso faz parte do desenvolvimento da sociedade Neocapitalista. O Neoliberalismo que cria a zona de competição. Só tem graça se houver competição.



Rafael Nolli: Quem não se organizar não sobrevive.



Tavinho Paes: É o capitalismo selvagem. Aqui está o chacal. A série luxo do Chacal. (nos mostra). Tem a série verde olhem só! Ele mesmo escreveu e desenhou à mão.

Esses são os bonitinhos. Porque tem muita coisa em xerox.

Quando eu faço uma exposição levo meus livros e quadros. O livro dentro do quadro e você não pode abri-lo. Isso cria uma coisa muito louca e legal, porque dá a poesia condição de obra de arte junto com os quadros. E também rola um Workshop sobre os quadros.



Tancredo Borges: E desperta o interesse.



Tavinho Paes: E o livro vira um obra de arte. O livro é uma obra de arte?

Uma das minhas principais influencias nos anos 70 no final de 1976, 1977 era as artes plásticas. Um deles que foi diretor do Museu de Arte Moderna, o Paulo Herkenhoff O irmão dele o Alfredo Herkennhoff que é meu amigo até hoje.



Tancredo Borges: Ele é um crítico de arte, ele é diretor do MAM hoje?



Tavinho Paes: Não sei se ainda é. Foi da Biblioteca Nacional. Um cara que é super capacitado. Foi formado na Inglaterra. Um cara que saca de direito constitucional pra caralho. Principalmente na época pornô. Aí fizemos a revista: Estrangeiras. Nós fazíamos coisas absurdas. Isso nos anos 60, mas o conteúdo que nós começamos receber informação era nos anos 70. Isso através do Paulo que tinha esta revistas. Tinha a luxos...



Rafael Nolli: Que ruptura é essa dos anos 50? É uma ruptura muito grande, não é?



Tavinho Paes: Mas é o formato de comunicação. E o princípio de começar a organizar a academia de forma privada. Aí começou a aparecer a faculdade de forma privada, que era uma coisa que não tinha. A aceleração é nos anos 70.

Ali aceleram as pessoas que vão pensar nos anos 80 o que vai acontecer nos anos 90. Aí hoje você vê vários garotos fazendo o que eu fazia a 20 e 30 anos atrás. Só que agora tem o computador, não é mais mimeógrafo. Não tem mais aquele papel. Thomas Edison, o homem que inventou a luz elétrica inventou o mimeógrafo. É uma coisa muito louca. Se fazia o verso de papel, de guardanapo. Era a ditadura, era outro contexto. Ulisses Guimarães convocando universitários. Era outro contexto, uma ditadura do cacete.



Tancredo: Esse livro que estou vendo é do nosso conterrâneo o Chico Alvim?



Tavinho Paes: Do embaixador.



Tancredo Borges: Vocês se conhecem?



Tavinho Paes: Claro, acho que ele está na embaixada da Tunísia agora.

É, eu faço o filme da Ana Maria Magalhães que é um raro registro. Assaltaram a gramática que é a música do filme SEM PÉ NEM CABEÇA. Mas é só com os poetas. Na época o Charles era um grande poeta recitador. Tinha outros livros dele, uma pasta de livros que eu perdi todos. Uma parte de livrinhos só da Nuvem Cigana.



Tavinho Paes nos mostra vários livros de vários autores da época marginal, um arquivo espetacular.





Tancredo Borges: Tavinho, nós estivemos numa exposição no Passo Imperial onde rola música e artes plástica juntas, você já participou de algo assim?



Tavinho Paes: Já, até com Totalmente Demais. A interpretação ficou legal. Acho que é válido, hoje tudo é visual, não dá mais pra ficar mais só na fotografia, é importante a fotografia.

Mas hoje qualquer um pode pegar uma filmadora e fazer um trabalho legal. Eu faço de tudo, até marchinha.

Inclusive acho que o Braguinha deveria ter uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Mas o mundo acadêmico é complicado. São interesses grandes, jogo pesado.

Hoje o Rio de janeiro tem um evento de poesia sim, talvez vocês se sentiriam incomodados com tamanha desorganização às vezes.

E tem outros que entram quatro poetas e três bandas de rock, e daí?

Tem outros que é performance, o cara surpreende mesmo. O cara da cambalhotas, cospe fogo...



Tancredo Borges: Mas está tendo muito está mistura de linguagem.



Tavinho Paes: Essa é a poesia que nós vamos viver agora, não tem saída. É essa. Ela começou com a poesia falada, com um empurrão do rap. É uma nova maneira de falar, então hoje você tem o rap. O cara já faz o poema, tem a trilha sonora e apareceu a imagem. Quando apareceu a imagem virou uma nova tendência internacional, não vai parar. É uma nova maneira de você chegar a classes populares. É como minha música TOTALMENTE DEMAIS que chega as classes populares não é através de Caetano, mas através de Perla. Então eu vou odiar a Perla? Não, a comparação nem existe. Uma é uma garota, o outro é um senhor. Uma é mulher, o outro é um homem. Um tem 50 anos, a outra tem 20. Que conversa é essa? Vai achar que tudo é igual, que está substituindo. Não está. A Marisa Montes está. Está substituindo a Nara Leão, que tocava de tudo Mpb, rock. A outra está substituindo a Elis. Mas não estão substituindo nada, são coisas originais e ficam com isso na cultura. Estamos vivendo o momento do boom da palavra falada, mas que a palavra escrita. Isso cria para a Academia um grande problema, porque o escrito é o que vale.



Rafael Nolli: Grafocêntrico.



Tavinho Paes: Grafocêntrico total. Só que como é lido numa estrutura vertical você não consegue entender que nem todos podem fazer um livro. E que na sociedade que nós vivemos, na comunidade, na favela você não vai conseguir arrancar um livro. Eles não tem dinheiro pra fazerem livro. Agora para falar no rádio o que eles pensam sim.

É assim que a poesia deles vai chegar.

Dez horas da manhã uma garota canta uma música , Tati quebra barraco que dá para ouvir daqui. A música como linguagem é uma coisa sensacional.

Mas é o seguinte: A música e a Poesia. É que você pode pegar um sujeito que não sabe tocar nem um violão, estar bêbado por tanto sem o rítimo, não toca nem pandeiro, com fome, morando mal, pé descalço. No meio da quarta cerveja ele é capaz de tirar um verso, que poucos no mundo sabe.

É, Nelson Cavaquinho.



Tancredo Borges: É hoje nós passamos perto de um mendigo vocês notaram que ele estava escrevendo uma poesia, foi bem interessante. Foi vocês que viram.



Tavinho Paes: O que eu tenho percebido com estes eventos é que uma pessoa muito maluca troca a sessão de psicanálise pelo evento de poesia. Gente deprimida em geral costuma curar porque na poesia o louco tem palavra. Ele pode falar, tem vários loucos que escreveram até livros.



Risada geral.



Tavinho Paes: Loucos mesmo. Aí a poesia cria um auto estima que a pessoa provavelmente não se localizou dentro do confronto social. Então ela fica meio perdida. De repente ela vai toda Terça-feira e vai num lugar que vão estar reunido novas pessoas. E, ela começa primeiro a conhecer novas pessoas, segundo a ganhar força pra abrir e soltar sua voz e desengasgar. É aquilo que ela vai fazer no psicanalista. E vai pagar várias sessões e um dia ela chora. E a poesia é capaz de dizer a mesma coisa que ela chora, sem precisar chorar. É uma linguagem que dá uma volta na dor. A dor passa. Risos.





Tavinho Paes: Evento de Poesia emagrece e tira dores em geral.



Gargalhada geral.



Tavinho Paes: Deixe de ser deprimido. Vá recitar um poema ali na esquina num bar. Numa tradição portuguesa de séculos rapaz! E tudo acabou porque ficamos vendo filme de americano. Já sacaram que nós só recebemos informações do que acontece nos Estados Unidos. Você só ouve falar no árabe porque os Estados Unidos está lá. Só onde ele está que nós ficamos sabendo de alguma coisa. É uma aporrinhação, não se recebe um filme francês, uma coisa qualquer diferente. Ficou todo mundo dentro do Neocapitalismo que não dá pra ser aqui, não dá. E não dá pra se criar mais emprego. Não consegue se criar mais emprego pra sustentar este trinômio de: aposentadoria, emprego e sindicato? É o capitalismo. A tendência é que esta merda quebre. Cria-se grupos perdidos do fator criativo. Aí vira o mercado informal, todos dentro do mercado informal. Aí como vai ser? Vira um mercado árabe. As preocupações humanas como um série de coisas são muito saldáveis. Mas se você pensar no chão mesmo os poetas têm muita responsabilidade. Não é só lazer não. Tem o cara que quer ser poeta, porque acha que o lance de ser poeta é porque você vai ficar doidão, tem o outro que acha que tem quer ser cético, estudar, ler os clássicos. Tem todos os tipos. É o único lugar onde a diversidade é aceita.



Tancredo Borges: Tem a função social, uma a responsabilidade. E uma vinculação à educação.





Tavinho Paes. A viagem é justamente esta, a educação.



Rafael Nolli: O rap é justamente isso.



Tavinho Paes: É interessante interagir a poesia com a música. Tem a lei Braguinha. Aí tem o sindicato, vai tirar o emprego de três. E o sindicato faz o jogo de quem? É terrível, é política. Você lembra de algum candidato político ter falado de Cultura na televisão?





Rafael Nolli: Nenhum falou. Fala de educação mas de cultura nada.



Tavinho Paes: Não é a mesma coisa. Aí faz com que um garota mal informada suba no palco do Gil em Salvador e diga:

_Mas Ministro, e as escolas?

Não é da pasta dele. Aí fica o cara naquela situação “o que eu faço agora”?

A pessoa está me ofendendo, subiu no meu palco, acabou com meu show e está falando da pasta de um outro cara que ela não sabe quem é. Risos. É uma loucura danada.

Eu ainda uso ainda quatro arquivos, um dos mais completos é do Chacal. O Chacal tem 180 livros de poesias no Brasil todo.



Rafael Nolli: Dessa geração?



Tavinho Paes. Inclusive os em panfletos. Agora o Chacal vai ter a obra dele toda editada. Vai sair pela Cosac & Naify



Tavinho Paes nos mostra umas revistas de cultura da época.





Tavinho Paes: Olha que bonito da Débora, lê uma parte do poema:



Por um equívoco

Não teriam desejado mais que um vôo

Não teriam desejado comer os mortos...



É interessante perceber que isso aqui foi feito na época da Ditadura.



Tavinho Paes nos mostra várias revistas, um feita pelo Abel Silva. Aí vem as paulistas: Muda e outras mais.

Nos mostra uma com páginas coloridas do Waly Salomão. Muito bacana.



Tavinho Paes: Baseado nisso eu fiz uns dois livros. Caramba, eu vendo isso aí fico até inquieto, eu gosto de falar desse assunto. Tenho lembranças... Porque eu era o marginal dos marginais. Eu não era de grupo nenhum.

Costumava criar muitos problemas pra eles. Roubava o show na verdade.

Eu lembro que fui pra São Paulo no teatro municipal. Era um festival de arte e poesia. E fui na carona, literalmente na carona. E não tinha casa pra ficar. Ficava na casa de uma namoradinha. Depois fiquei na casa de alguns amigos. Como aqui. Às vezes vem um e dorme aqui em casa.

Aí soube na rua que iam pra São Paulo, eu então entrei no trem Rio - São Paulo com a roupa do corpo e soube que estavam indo pra São Paulo.

Quando acordei estava em São Paulo sentado no bondinho. Pequei o livro dos outros e sai na rua vendendo o livro dos outros. Eu virei Chacal, eu virei Chico Charles. Virei porque eu estava com o livro e vendi pra poder encarar, sobreviver. Aí fomos pro evento e nos disseram que tínhamos que nos inscrever. Tudo organizado, hora tal sobe fulano e recita. Outra hora é a vez do ciclano. Os caras que faziam os melhores livros de São Paulo. Aí tinha hora dos poetas se apresentarem, sociedade paulista, as senhoras...

Aí num determinado momento eu entrei pelo palco com as luzes apagadas.

O cara deixou acessa apenas uma luz para os caras arrumarem uma iluminação de uma orquestra que ia tocar depois. Aí eu tô com uma puta vontade de mijar e pensei vou fazer aqui mesmo a poesia processo de alto nível, peru de fora não dá palpite. Aí mijei e viram.

Venho uma voz dizendo:

_Você à direita tentando quebrar as regras de convivência.

Eu fiquei assustado e a polícia cercou.

Aí eu vi que já tinha sujado. Veio a polícia... Aí acabou a feira de Arte.

Mas consegui sair ileso.



Cássio Amaral: Essa foto está numa entrevista sua, acho que na entrevista sua para o Rodrigo de Souza Leão.



Tavinho Paes: É, está na entrevista com o Rodrigo de Souza Leão mesmo.

O Rodrigo é um cara interessante, gente boa. Ficou mais caseiro agora.



Confiram o site de Tavinho Paes no: http://www.poemashow.com.br/







Tavinho Paes é poeta, compositor e realiza o evento Poesia Voa no Rio.

Tem letras gravadas por Caetano Veloso, Lobão, Hanoi Hanoi, Marina e Cazuza outros cantores mais. Dentre suas músicas algumas da minha geração que gosto muito: Totalmente Demais, Blá, Blá, Blá... Eu te amo, Bonsucesso 68, Spartana, Baton e muitas outras.


Esta entrevista foi publicada em fevereiro de 2007 aqui:






4 de novembro de 2010

Lero- Lero com Rodrigo de Souza Leão em janeiro de 2007 no Rio de Janeiro

Da esquerda para à direita: Cássio Amaral, Rodrigo de Souza Leão, Rafael Nolli e Ricardo Wagner

Hoje o amigo Rodrigo de Souza Leão faria 45 anos, 
no ano passado ele nasceu no mundo espiritual.
Para quem não leu, a entrevista que fizemos com ele
 em janeiro de 2007 no Rio aí embaixo:

 

Estivemos na casa de Rodrigo de Souza Leão, Rafael Nolli, Ricardo Wagner, e eu Cássio Amaral. E rolou esse lero lero:
Cássio Amaral: Rodrigo, você acha que a poesia é um espécie de disritimia?
O poeta nessa onda de se expressar e se inter- relacionar com o que ele vê e consigo mesmo você acha que é uma espécie de loucura?
Rodrigo de Souza Leão: Eu acho que sim, principalmente os poetas da vanguarda atual.
Esse papo que vanguarda morreu eu acho que é meio estranho porque sempre existe gente que está na contramão, que está fazendo coisas de invenção. Por exemplo o Claudio Daniel é um cara que escreve muito bem e de uma forma alucinada, meio louca. O próprio Rafael Nolli.
Rafael Nolli: Mas eu não tenho forma nenhuma, não consigo trabalhar forma e conteúdo, e eu queria ter forma e conteúdo.
E o Claudio Daniel já tem uma forma e um conteúdo. E igual você tem.
Rodrigo de Souza Leão: O que eu quero dizer é que muitos poetas hoje estão falando que forma é conteúdo. Acredito que seja. Mas muitos estão privilegiando a forma ao conteúdo. Então o poema que fica ilegível.
Ricardo Wagner: Estabelece uma hierarquia. Ao invés de uma complementar a outra. Uma prioriza a outra.
Rodrigo de Souza Leão: Eu acho que a forma tem que ser Apolínea. E o conteúdo Dionisíaco. A forma deveria ser mais na estruturação do poema. E o conteúdo mais caótica. Aos invés do contrário.
Rafael Nolli: O que nós percebemos é que aqui no Rio há uma preocupação maior com a forma e desprezam bastante o conteúdo. Temos conversado muito sobre isso, aqui a poesia é basicamente falada. Há forma de expressão, sonoridade e quase sempre não tem conteúdo.
Ricardo Wagner: Cultivam o exercício da oralidade.
Não têm preocupação pelo garimpo.
Rodrigo de Souza Leão: O que eu procuro dizer é o seguinte:
Pro cara que não é louco é mais fácil o formal e o conteúdo do que pra quem é louco.
Rafael Nolli: Em que sentido?
Rodrigo de Souza Leão: Por exemplo você fazer um verso se você não tem problema de loucura pra você falar de loucura fica uma coisa mais simples. Pra mim hoje em dia, não antes, mas hoje em dia, quando eu não falo de um tema bravo, de loucura, de morte eu não consigo fazer o poema. Fica um poema meio atípico.
Então, eu sinto mais facilidade quando há essa disritimia, essa loucura.
Eu tenho mais facilidade de escrever poesia que prosa.
Mas a minha prosa... Eu não gosto de escrever prosa. Poesia não eu gosto, eu me divirto, eu me sinto bem, ou mal até, mas eu me sinto. Prosa é um trabalho, sentar ali e escrever. Ás vezes é chato pra burro. Poesia é uma coisa curtinha , você faz em dez minutos. Prosa não você demora uma hora para escrever uma página. Eu até estabeleci um ritmo que eu tenho de prosa:
Eu tenho Carbono Pautado, Todos os cachorros são azuis, Homem telefone, queé uma homenagem ao meu irmão que fica no telefone, fica na sala de bate papo, no telefone tentando ganhar a garota.
Gargalhada Geral de todos.
Rodrigo de Souza Leão: Aí esta estória de telefone, eu fiz uma novela, são setenta páginas falando sobre o homem telefone. O cara que fica no telefone. O cara transa com uma anã, com uma deficiente física.
Aí ele reclama do autor que só transa com os problemáticos, aí o autor da uma maravilha pra ele. Eu vou contar o final...
Aí o personagem mata o autor.
Rafael Nolli: O personagem é que mata ou autor, inversão de valores.
Rodrigo de Souza Leão: É,inversão de valores.
Rodrigo de Souza Leão: Tem um outro que fiz agora está sem título tem trinta e cinco páginas, uma novelinha. Eu prefiro escrever novela, do que escrever texto romance. Só tenho um romance que é o Memórias de um auxiliar de escritório. E o romance é trabalhoso e ás vezes não fica como você quer. E a novela dá pra você ter um melhor controle.
Uma coisa interessante que eu me lembrei agora é que eu fui renegado até pela editora do psicólogo.
Eu mandei um livro pra lá Casa do Psicólogo chama. Todos os cachorros são azuis é o nome do livro, conta as minhas passagens pelo hospício, por estes lugares. . O Glauco lançou um por lá. Aí eu falei pô nada melhor lançar um livro pela Casa do Psicólogo, não vai ter lugar que vai me acolher melhor que a Casa do Psicólogo pra eu lançar o livro. Aí em mandei o livro, não deu dois dias o livro estava de volta. Pelo menos me devolveram o livro pra eu mandar pra outras editoras. Mas geralmente só vão pela carta proposta. E o carbono pautado mandei pra Objetiva e a pessoa mandou uma carta pra mim dizendo o seguinte que tinha gostado do livro e ia entrar em contado comigo, achando que eu tinha perdido a mão no meio pro fim. Aí eu peguei o telefone e liguei pra Objetiva e tentei falar com esta pessoa, mas ela não quis me atender. Aí eu fiquei meio chateado com esta estória, era meu primeiro livro em prosa, seria uma oportunidade de ser lançado.
Rafael Nolli: O que devolveu pra você em dois dias possivelmente não foi lido.
Cássio Amaral: Talvez eles não sacaram.
Rafael Nolli: Eles querem é ficção.
Rodrigo de Souza Leão: Eles querem é ficção, teoria. Eles querem essas coisas. A Casa do Psicólogo.
Cássio Amaral: Meu apelido é cachorrão. Então você tem um livro que chama Todos os cachorros são azuis?
Rodrigo de Souza Leão: Todos os cachorros são azuis, porque era um cachorro de pelúcia azul que eu tinha quando era pequeno.
Rafael Nolli: Esse aqui não é de pelúcia não (risos) aponta pra mim (Cássio Amaral) risos.
Cássio Amaral: É um livro de memórias?
Rodrigo de Souza Leão: É de memórias e das minhas passagens do hospício duas vezes. Tem umas pessoas que lembram pessoas relacionadas a minha infância, tem uma que lembrava minha avó. E eu achando que minha avó estava internada, minha avó já tinha morrido há dez anos.
Rafael Nolli: E a internet? Como que começou pra você?
Rodrigo de Souza Leão: A internet foi ótimo! Isso aí foi maravilha! A partir de 1998 eu acho, 1997 surgiu a internet aí eu comecei a entrevistar as pessoas, inclusive eu tenho umas duzentas, quase trezentas entrevistas que eu arquivei. Eu entrevistava e criei o site CAOX, botava lá uns dois poemas e as entrevistas. Eu achei que a melhor forma de eu me divulgar seria divulgar os outros. Como eu não era conhecido por ninguém eu poderia ter acesso aos livros. Muitos escritores quando você vai entrevistar não mandam porra nenhuma, mas hoje mandam os livros. Então, eu pude conhecer toda minha geração: Ademir Assunção, Claudio Daniel, Ricardo Corona, César Alcíades, todos estes escritores que estão hoje num patamar um pouco melhor. Pra mim foi muito importante a Internet, porque eu pude fazer o meu trabalho de jornalismo. Eu sou formado em jornalismo. Eu consegui me formar em 1988. Eu tive problema em 1989, então eu consegui acabar a faculdade.
Cássio Amaral: E hoje na música o que você tem ouvido, escutado?
O que você gosta?
Rodrigo de Souza Leão: Eu gosto muito de White Stripes, eu acho muito bom, principalmente com a guitarra, limaram o baixo.
Eu continuo escutando o que eu sempre ouvi, eu gosto muito de Jimi Hendrix.
Cássio Amaral: Você curte os clássicos? Black Sabbath?
Rodrigo de Souza Leão: Não sou muito Heavymetaleiro não.
Cássio Amaral: Você curte Neil Yong?
Rodrigo de Souza Leão: Curto, mas não muito. Eu sou mais fã mesmo é do David Bowie.
Bruno de Souza Leão entra na sala e nos é apresentado pelo irmão Rodrigo.
A entrevista segue rolando. Bruno nos conta que foi baterista. Ele e Rodrigo tiveram uma banda que tocou no Circo Voador.
Rafael Nolli: O Bruno parece o Edgar Scandurra.
Cássio Amaral: Parece mesmo.
Rodrigo de Souza Leão: O Edgar Scandurra?
Cássio Amaral: O Edgar Scandurra está com Arnaldo Antunes agora, não é? Gravaram Lupicínio.
Rodrigo de Souza Leão: Gosto muito do Arnaldo Antunes, tanto como compositor como poeta.
Rafael Nolli: Tem poesia na música atual brasileira?
Rodrigo de Souza Leão: Eu acho que tem.
Cássio Amaral: E as bandas do Rio, você gosta de Los Hermanos?
Rodrigo de Souza Leão: Eu gosto depois que desistiram de Ana Julia. Aquilo era um saco! Com este disco novo eles estão bem melhores. Mas não gosto quando eles vão muito pro samba. Acho que fica muito diluído. Eu tenho um cd pronto de música e poesia. É uma mistura de eletrônico com Rock, é um trabalho diferente. Pena que eu não tenha uma cópia do cd pra mostrar pra vocês, acho que vocês iam gostar.
Tem um punk rock que foi a única letra que o Bruno fez que chama Esquizofrenia, é assim:
Estou preso
Grito socorro para alguém me ouvir
Fico angustiado falta me ar
Estou mal
Passo mal
Nós gravamos e vou dar os créditos a ele.
Cássio Amaral: E a cena em São Paulo, você conhece?
Rodrigo: Talvez mais que daqui do Rio. Aqui no Rio é comandado pela SETE LETRAS, que sempre lança os escritores novos. Lá em São Paulo parece que o Claudio Daniel está com uma coleção nova. Tem a Iluminuras, conheço bastante gente. Teve a Lamparina, que lançou Antônio Mariano, que é da Paraíba.
Rafael Nolli: E essa sua ligação com a Paraíba? Já é a terceira vez que você fala na Paraíba.
Rodrigo de Souza Leão: Meu pai é paraibano. É, essa cabeça de ovo.
Rafael Nolli: Então está explicado.
Rodrigo de Souza Leão: É, a Paraíba é a terra do meu avô, da minha avó.
Rafael Nolli: É a terra da poesia também! Augusto dos Anjos.
Rafael Nolli: E o Mangue Beach? Chico Science?
Rodrigo de Souza Leão: Chico Science era muito bom né! Era um cara genial.
Pena que morreu tão cedo. Vocês vejam que nós perdemos Cazuza, Renato Russo e Chico Science antes dos quarenta anos.
Rafael Nolli: É o que aconteceu com a geração do Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison.
Rodrigo de Souza Leão : talvez seja o mal do Rock.
Cássio Amaral: É a intensidade de viver a arte.
Rodrigo de Souza Leão: Eu gosto muito do The Doors. Eu tenho um amigo baixista ele detesta o The Doors porque não tem baixo.
Rafael Nolli: Já é a Segunda vez que você fala da falta do baixo, seu problema com o baixo está explicito aqui.
Rodrigo Nolli: Não, eu gosto de baixo.
Cássio Amaral: Como você vê a volta dos Mutantes. Isto em outra época, com outro contexto e com a Zélia Duncan. Como você entende isso?
Como você vê trazer The Doors como cara do The Cult?
Rodrigo de Souza Leão: Eu acho isso uma babaquice, se fosse pra voltar ressuscitava o Jim Morrison e botasse pra cantar, pegava a Rita Lee e botava pra cantar.
Cássio Amaral : Não é a mesma química?
Rodrigo de Souza Leão: Não é a mesma química, não são os mesmos cantores. E a Rita Lee era linda naquela época. Eu não vejo como uma coisa legal.
É como a volta dos Beatles há um tempo atrás que todos mundo queria que voltasse. Eu acho que o passado passou e tem que ficar no passado.
Rafael Nolli: E o Pink Floyd? Como você viu a volta deles. O Pink Floyd não acabou, mas tem a questão do Waters...
Rodrigo de Souza Leão: Eles tocaram quatro músicas e eu chorei. Eu sou contra, mas você vendo os caras ali...
Rafael Nolli : O Waters não fez falta, fez? O Pink Floyd sobreviveu bem sem ele.
Rodrigo de Souza Leão: Não, parecia U2 o Pink Floyd.
Rafael Nolli : Eu acho que sobreviveu.
Cássio Amaral : Um amigo meu viu e falou que foi bacana, que a química deles flui muito ainda juntos.
Rodrigo de Souza Leão: Eu comecei como letrista. Meu irmão teve banda, várias bandas. Até que ele se firmou numa, chamava Eutanásia. Eu tentava cantar. Eles tocaram Jimi Hendrix, Black Sabbath. Eu tentava cantar, mas como ninguém me dava chance eu pensei vou ser letrista. Aí escrevi uma letra na faculdade, a Suzana Vargas era minha professora, é até uma poeta conceituada. Ela disse escreva o que vocês quiserem.
Eu escrevi então Bomba H:
A bomba é a solução
Em certa situação
Não é crise geral
Imposto territorial
Aí ela deu pra sala de aulas, mas ninguém leu o texto.
Meu irmão pegou a primeira parte da letra e fez a segunda parte com a Eutanásia e virou um hit aqui. Eutanásia tocou na rádio fluminense.
Eu continuei, aí eu fui fazer aulas de canto.
Fiz aulas de canto um tempo. E depois entrei numa banda chamada Pátria Armada e fizemos um certo sucessinho, tocamos no Circo Voador, Let Bee, Made in Brazil.
Cássio Amaral: Pátria Armada era Punk?
Rodrigo de Souza Leão: Pós Punk.
Cássio Amaral: Influência com as bandas inglesas?
Rodrigo de Souza Leão: Não, eu comecei a gostar de Rock quando meu tio Paulo César Duarte, que é um grande crítico literário aqui do Rio me deu quatro discos, três dos Beatles e um dos Rolling Stones aos quinze anos. Mas eu nem sabia que aquilo era Rock. Mas o Rock mesmo veio com a Legião Urbana, quando eu peguei aquele disco branco, um amigo meu me emprestou. Eu falei é isso aí que eu quero fazer. Aí comecei imitando o Renato Russo literalmente, mas eu não tinha a voz do Renato. Aí fizemos o Pátria Armado com a influência da Legião, mas ficou diferente, pois tínhamos nosso punch. Eu gostava do U2 naquela época, o Bono cantava muito mais que hoje. Sunday Bloody Sunday, ele consegui aqueles agudos altíssimos. Uma coisa espetacular! O Bono pra mim era um cantor incrível, Continuo gostando muito do U2, mas acho que o Bono piorou. Fizemos o Pátria Armada. Aí no Pátria Armada eu fazia as letras e cantava.
Escrevi também Carbono Pautado, que é um livro de memórias de um auxiliar de escritório. Conta os bastidores do trabalho. É um livro de Prosa. Ele tinhas umas novecentas páginas. Eu fui limando e o finalizei em dezentas páginas. Eu queria ser o Balzac do funcionalismo público. Contar os podres que rolava nos bastidores do funcionalismo público.
Eu tinha um chefe muito chato, toda vez que ele me sacaneava eu colocava uma suástica na minha agenda.
Uma vez caiu a agenda e eu pensei assim vão achar que eu sou nazista.
Aí fui contando essas estórias e estava sem revisão. Fiz a revisão, mas não consegui publicá-lo ainda.
Recentemente o Horácio Costa esteve aqui e deixei com ele dois livros, um de prosa o Todos cachorros são azuis e um de poesia.
E está na internet:
todoscachorrosblogspot.
Ele falou que gostou muito, e indicou para um editora.
Agora com este projeto da Petrobrás eu vou tentar concorrer com a bolsa. Eu tenho livro com ISBN, a carta da editora. Eu quero ver se eu concorro. Sei que é muito difícil. Mas vou concorrer.
Cássio Amaral: E a pintura como entrou na sua vida?
Rodrigo de Souza Leão: Vamos ali que vou mostrá-los pra você.
Rafael Nolli: E a técnica dos seus quadros?
Ricardo Wagner: Você faz igual o Pollock? Joga as tintas da lata?
Rodrigo de Souza Leão: É, eu jogo as tintas da lata. Depois vou com um chuverinho de bidê. E faço a estrutura. Mas o quadro fica tão difícil de secar, fica um ano pra secar. Eu só vim a saber depois que óleo não se mistura com água.
Rodrigo de Souza Leão: Eu chamo aquele de Derrame e este de lua (nos mostra os quadros).
Rafael Nolli: O derrame é mais intenso.
Cássio Amaral: O derrame tem uma pegada mais punk.
Rafael Nolli: Num calor muito forte é possível eles derretam. O David Makin, que faz capa de revista em quadrinhos, fez as capas do Sadman, numa dessas experiências um quadro dele num museu derreteu. E foi até interessante, que ficou na parede.
Rodrigo de Souza Leão: O glauco Matoso é muito meu amigo, ele é um cara que une o apolíneo ao dionisíaco. E ele faz uma poesia que é a pegada dele.
Ricardo Wagner: Ele concilia a forma e o conteúdo, consegue esse equilíbrio.
Rafael Nolli: Tem alguma ligação das suas telas com sua poesia?
Rodrigo de Souza Leão: Tem uma ligação num sentido. Eu faço muita gente chorando. Tem um lance com minha poesia pelo fato da estabanação da loucura. Acho que não são quadros de teor artístico elevado, é mais uma manifestação do meu inconsciente. Eu consigo escrever coisas de uma forma simples, que eu considero com conteúdo e com forma. Eu poderia fazer versos simples sem falar de loucura, mas não consigo. E isso que eu acho que é o difícil. Sempre procuro isso, que o apolíneo e o dionisíaco na minha poesia dentro daquilo que eu vivo.
Rafael Nolli: Queira ou não você realmente é poeta, toda essa questão. Você tem formação, instrução, bagagem e conhecimento de poesia. Além de qualidade e conteúdo. É poeta mesmo. Você estaria até se traindo se não falasse do que vive. Tavinho até falou disso ontem, da poesia ajudar as pessoas, não quem tem problema de saúde, ou mental.
Rodrigo de Souza Leão: Quem tem o problema está em outro mundo. Um mundo particular, eu vivo no meu mundo particular.
E eu coloco pra fora este mundo.
Ricardo Wagner: Você não se envergonha, não faz apologia ao que você tem. E como o Glauco Matoso, ele não esconde o glaucoma. Você encara usando a linguagem.
Rodrigo de Souza Leão: Eu não vou fugir nunca a isso. Apesar de eu começava escreve sem tocar neles. Eu escrevi dez E-books .
Eu comecei com o OLHO LITORAL DO TEMPO, tem o prefácio do Claudio Daniel, ele gostou muito. Ele é muito amigo meu, nós fazemos a Revista Zunái. Que é uma revista que o Claudio Daniel tem um carinho muito grande. A Ana Peluso que é gente fina demais.
Cássio, Ricardo, Rafael : A Ana é amiga nossa. Nós gostamos muito dela.
Rodrigo de Souza Leão: A Aninha é demais. Falo muito com ela, é gente boa. Eu escrevi NO LITORAL DO TEMPO, também escrevi IMPRESSÕES SOBRE PRESSÕE ALTAS. Eu tenho pressão alta. Aí fiz Impressões sobre pressões altas. São poemas que falam do Impressionismo: Van Gogh, Monet, Gauguin... Fiz dez poemas sobre cada um, bem interessantes.
Rafael Nolli: Van Gogh você disse?
Rodrigo de Souza Leão: Van Gogh é demais! Eu gosto do pop também. Esse papo de underground distancia as pessoas.
Por exemplo nos anos 80 o underground foi criando vários under. Fica aquela coisa, o under do underground.
Rafael Nolli: O pop pode aproximar mais as pessoas para a poesia.
Rodrigo de Souza Leão: Você veja o primeiro disco da Legião, Cara, tem muita música legal ali. A Dança, o Reggae e outras mais.
Eu gosto de todos da Legião. Eu e meu irmão. Meu irmão que é meu parceiro, meu amigo.
Rodrigo de Souza Leão é jornalista, poeta e escritor. Um cara pra lá de gente boa e escreve no blog: http://lowcura.blogspot.com/ , podem ir lá e conferir!
Um poema aí do Rodrigo de Souza leão:
AINDA BEM
Hoje em dia, quando alguém está doente, a família chama a polícia.
A polícia vem e bate um papo com o cara. Se for preciso, colocam
a camisa de força.
Eu não tinha como resistir: eram três tiras mais fortes do que eu.
Eles me levaram junto com o meu irmão. Acharam que eu não tinha
nada, mas meu pai sentia um medo danado que eu fizesse alguma loucura
Mas eu era um perigo só para mim mesmo.
Do começo podia sair o fim, mas eu não queria rimar pobre
com nobre em versos de impacto, só queria um pacto entre mim e você.
Eu jamais poderia dizer que só faria mal a uma mosca. Eram
centenas e centenas delas, e matei algumas por prazer.
(Rodrigo de Souza Leão)
Blog: http://lowcura.blogspot.com/
Site do Rodrigo de Souza Leão:

http://www.rodrigodesouzaleao.com.br/

Essa postagem é repeteco, a publiquei 
em 13 de fevereiro de 2007:


http://cassioamaral.blogspot.com/2007_02_01_archive.html

Trecho do livro me roubaram uns dias contados no

post aí embaixo: 




Parabéns mano véi! Sinto saudade sua brother.

 ...(MANIFESTO QUALQUEIRISTA : artigo um) Quero qualquer coisa
qualquer nota, qualquer dia, e odeio aveia Quaker. Desejo o que respiro.
Respiro o que desejo. Cada é livre e pode dizer-se poeta da forma como
quiser e se expressar como quiser, e a palavra poetastro será banida do 
dicionário. Todo poeta é um bom poeta, e Jesus Cristo que ia julgar os vivos
e os mortos ainda não apareceu para me coroar com uma flor carnívora.
Além do fim do poço há uma possibilidade de haver uma areia movediça 
no quintal de sua depressão.Por isso tuo pode piorar. Para que o qualquei-
rismo seja implantado é forçosamente necessário que os dez primeiros 
inscritos no movimento façam um antologia poética com Os Cem Piores 
Versos dos Cem melhores Poetas de Todos os Tempos. Assim veremos
que ainda somos piores do que os piores dos melhores.
Tô cansado de escrever, e como ninguém vai ler: 
lâmina na goela estéril da minha criatividade toda lux luxuosa  e rubra
ruboriza aquele horizonte onde dante e algum demônio se dilacera
numa verdade e alguma turbina de um avião cadaveriza o aerador fênix
mordendo jorge de lima revirando na cova por ter citado o seu nome 
nesta nova trova embolada onde ponho todo o meu coração apodrecido
por fezes e cactos e sêmen-lhantes que abominam alguns trocadalhos 
mesmo assim que sabe me invento inventando um vento que turbine
a alma daquela vela próspera em ignecer minha designação
Em vez de enrolar, prefiro copiar e colar:
(marfim tristeza onde derruam a profusão de ideias tolas que circun-
dam o que todos esperam é que o ser seja  o que todos são e iguais
seremos animais também. Derrubem uma vaca e a defequem quan-
do gozarem. Os pássaros foram feitos para morrer voando)...

Do livro "me roubaram uns dias contados"
De Rodrigo de Souza Leão.
Editora RECORD
RIO DE JANEIRO - SÃO PAULO
2010.

Moro com minha esposa aqui em Barra Velha, litoral de 
Santa Catarina. Fui comprar o livro do Digão no Shopping
em Joinville que é próximo daqui. Cheguei na livraria 
e pedi para a moça o seu livro. Ela consultou o sistema 
e disse que só tinha um exemplar na loja.
Foi a prateleira e o procurou, procurou...
Custou a encontra-lo. Quando ela me entregou o 
livro não aguentei e me emocionei. Chorei.
Rodrigo era meu amigo, meu camarada, meu irmão.
Nos falavamos muito pelo msn. Ele fez a apresentação
do meu livro Sonnen. E antes de seu falecimento eu tinha 
planos de voltar ao Rio para reve-lo. Dar umas 
risadas com ele. Mas a vida é assim. A vida 
está na morte e a morte está na vida. 
Não existe morte! Digão permanece na 
literatura que ele fez, seja em 
Romance ou na Poesia. Digão fica. 
Eu, Ricardo Wagner e Rafael Nolli o 
entrevistamos no Rio em Janeiro de 2007,
nunca vou esquecer aquela tarde de lero - lero
com o amigo Digão. 
A entrevista  publiquei em 2007, mas a repeti 
no post acima porque hoje Rodrigo faria 45 anos 
de vida. 
Saudade sua mano véi, brô aquele abração 
aí nas outras esferas.