3 de fevereiro de 2012

POEMAS DE GILSON RIBEIRO



  • FRAGMENTÁRIOS
    por GILSON RIBEIRO


    § OMNIBUS


    máquinas sacolejantes seguem engolindo gente parada nas paradas onde pedaços da humana massa de ombros comprimidos se desprendem pela cloaca lateral de portas duplas idênticas às da boca


    § POST(scriptum) MODERNUS


    é tipo tipografia decorativa
    (a grife da vanguarda...)
    escribafônico fetiche


    é feito frases feitas
    destituídas de qualquer efeito
    (...nada dista...)
    senão fonético
    (...da vã tradição)


    parece raro sendo apenas rarefeito


    § [constrangimento]


    (me espanta o seu olhar olhando pra dentro daqui)
    (me vexa ver você vendo o que você vê em mim)
    (sua retina redoma retendo meu corpo magrelo pelado)
    (em sua retina redonda retido & redondamente enganado)
    (em sua retina reflexo do complicado complexo de ser alguém qualquer um ninguém)
    (assim mesmo sou eu mesmo sendo eu mesmo também)
    (me espeta o seu olhar se olho nele & dentro dele encontro o meu)


    § O LANCE


    p/ Nane


    também não fora o que pudera
    ser quando era
    o que já era & que por ora
    é só memória
    do que parecia para sempre e pereceu


    também pudera
    pois ao que parece
    algo já era
    se não for como parece
    ser


    § SIMILARES


    dois palitos de fósforo
    siameses
    se queimam juntos
    ou são guardados
    qual talismã por demais delicado


    ou são apartados
    & consumidos em separado
    como seus 38 similares
    pois só porque
    acidentes
    acontecem
    dois palitos de fósforo
    ordinários
    foram concebidos quase como sendo apenas um


    § EM SÉRIE


    ...portanto quanto àquele que for
    será sempre tanto quanto quem quer que seja
    – nunca nada além do que é qualquer um

    GILSON RIBEIRO

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    autodesenho: Gilson Ribeiro

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