12 de outubro de 2007

A FALA DE JOMARD MUNIZ DE BRITO



Astier Basílio: E SOBRE A FEBRE DA INVENTIVIDADE, ESSA COISA DO NOVO, SOBRE O NOVO, O QUE VOCÊ ACHA?

Jomard Muniz de Brito: Será que o pessoal está mesmo afim disso? O pessoal está muito preocupado é com o lugar no mercado. As pessoas estão muito preocupadas com o mercado, com o sucesso e com a sobrevivência do mercado. Pra você entrar no mercado tem um jogo, se você tem um amigo numa grande editora, aí você vai ser editado, vai ser publicado. Se você mora no Rio e em São Paulo há mais possibilidades de se entrar no circuito nacional do que se morando aqui. Estas são relatividades, que é o relativismo, que é o cinismo total... se deve fazer a análise concreta de situações concretas.
Não se vive impunemente no Recife, em João Pessoa ou em Natal, você tem que assumir isso, o ônus disso, por covardia ou por qualquer coisa ou por medo de não fazer sucesso numa cidade maior. E depois tem mais uma coisa que eu não gosto: é de assumir uma máscara de seriedade (risos) Isso eu aprendi com Sartre. Pra você ser um intelectual, ou ser um poeta, ou ser uma pessoa que tem trânsito na academia, na sociedade letrada, tem que ter uma postura de seriedade, tem que estar enquadrado, que é uma hipocrisia, ter de fazer um jogo de cortesia e eu aprendi com o Tropicalismo a me lixar pra estas coisas.

JOMARD MUNIZ DE BRITO
(Professor, poeta, escritor e agitador cultural)
É um dos mais representativos nomes da vanguarda brasileira, que inclusive assinou o histórico Manifesto do Tropicalismo.

Do livro: diálogos – Seleção de entrevistas publicadas no caderno literário Correio das Artes, no jornal A UNIÃO, em 2003.
Coordenação de: Linaldo Guedes e Astier Basílio.

Um comentário:

L. Rafael Nolli disse...

pois é Cássio, fora do eixo a coisa fica cada dia mais preta! E o pior, a babação de ovo, a necessidade do poeta funcionário pública, de gravata e conduta exemplar! Que o Manuel já havia execrado a décadas e décadas! Cara, achei sensacional a idéia de fazer um vídeo poema com a sombra do Baudelaire! Abraços, Cássio!