30 de setembro de 2015

CURRAL


Para Rubens da Cunha

Enquanto a galinha saltita cococó
A égua relincha um rococó
Os porcos no poder
Os cavalinhos correndo e nós cavalões comendo
Abriu!
Abriu!
Os bichos todos soltos
O boi mugido destempero intempéries
O cavalo dando coices em todos pra
Ver que o coice destrói  o curral
 Monjolo do tempo

Cássio Amaral.
30/09/2015



chove de novo
frio chega
no tempo que vai.

29 de setembro de 2015

HÁ FLORES DA PELA

clarão da alma
arqueada nos teus olhos
o tempo calabouço castigo
advém na palma dos séculos

pensamento regozija-se
seu manto púrpuro
dando-me a mão

maria madalena aos pés de cristo
levanta-se depois da purificação
abraça-o e o beija na boca

as tiras são lembranças

saudade.


28 de setembro de 2015

                CLAUDIONOR O POETA ANDARILHO NA RODOVIÁRIA DE UBERABA


Ele olha para mim, fixa na minha camiseta amarela da Enfim que está escrita " gente que te inspira" com o passarinho vermelho voando para o coração vermelho.
Senta do meu lado com a marmita na mão, camisa marrom clara, é um negro de seus 57 anos. Olha pra mim estou lendo Todos os Cachorros são azuis de Rodrigo de Souza Leão. para meu estudo, relendo na real é a quarta releitura. Ele só fica a me observar , sente a necessidade de falar comigo, mas vê estou concentrado. Levanta e senta no outro banco quase de frente de mim. Eu o saco, penso e volto a minha leitura.
Depois de quase vinte e cinco horas na estrada tenho que esperar mais uma hora para ir à Araxá rever meus pais, irmãs, sobrinhos e amigos.
Levanto, vou até banca de jornais e compra uma água. Dou uma volta na rodoviária, vejo as pessoas que embarcam para seu destino.
Sento em outro ponto de frente da plataforma 9 onde sai meu ônibus.
Claudionor senta novamente do meu lado e me pergunta:
_Gente que te inspira?
_ Tem gente que inspira e tem algumas que não.
Ele puxa papo. E me conta sua lorota.
Diz que é poeta, o poeta andarilho. Que viveu em Brasília na rodoferroviária, que ali em Uberaba, que apesar de ser poeta não consegue perdoar as pessoas que o agridem.
Que uma PM mulher sargento no dia de ontem domingo tinha o acordado e ele ficou puto com isso o dia todo.
Conversa vai e conversa vem.
_Você já foi casado Claudionor?
_Não, nunca se fosse não seria andarilho.
Ele me conta que fizeram um documentário com ele em Brasília , o filmaram na rua declamando sua poesia. Mas que ele quer ser anônimo.
Digo que sou poeta a ele.
_Vou te declamar um poema meu. “O garoto abandonado não tem chão quer encher seu coração”.... Declama seu poema.
Peço a ele que me declame outros poemas seus, ele o faz com naturalidade e boa oralidade.
Pede a mim que eu declame alguns poemas meus.
Declamo uns poemas do Leminski e um de Aline Fonseca , uma menina de Floripa.
É hora de embarcar no ônibus , dou quatro pilas a ele e sigo meu caminho.
Antes de entrar no ônibus ele ainda diz:
_Amigo, lembre-se que ainda existe a poesia. A poesia.





26 de setembro de 2015

HOKKUS ALEATÓRIOS

I

frio chega
me leva
para dentro de mim.

II

frio a alma fria
quer sorrir
de dia novamente.

III

parto na estrada
parte de mim
fica na chegada

IV
turo reto
torto 
só o coração


V
a saudade 
bate no peito
quando o amor pede tempo.








19 de setembro de 2015

COMO NASCEM OS POEMAS E HAIKAIS.





Antes da Maeles engravidar sonhei com uma menina. 
Ela veio perto de mim num vestido lindo de branco e cabelos encaracolados e me deu um bilhete. 
Abri o bilhete estava escrito:

FELICIDADE. 
Falei para Maeles que ela estava grávida. 
No dia que sonhei com essa menina, já me bateu um sentimento que viria um filho ou filha. 
E José Aloise Bahia me ligou de Belo Horizonte e me perguntou se eu já tava arrumando um menininho ou menininha. Disse que ainda não. Mas isso foi antes do sonho. 
Então, depois que confirmou-se a gravidez de Maeles em 2011 rabisquei esse haikai para 
a Malu (Maria Luiza) :

BILHETE II.

Malu brinca
A vida é criança
No bilhete de felicidade. 

Cássio Amaral.
Do livro Faísca
Edições Imprevisto e Coletivo Anfisbena
2014.

10 de setembro de 2015

PARA O GRANDE ULISSES - Alberto Lins Caldas.

sim, Ulisses o frio carcome. a hipocrisia sátira do fim. tiro máscara para dar um tom de visto improvável não lamento. tormentas como perdição declinam. o caminho só, mar tormenta desvio da rota principal. enxergar o nada para compreender o tudo.

9 de setembro de 2015

CARBONO

não passo de chão
incólume plural,
permita-me um chavão
apenas animal.

carbono 14
moderna nevrose,
dou pó estico lordose
sou dono de nada no gogó.

assim Matoso, Gregório,
Augusto dos Anjos,
vê que tudo é fulguroso.

sou pó, estrela cadente
onde você não vê,
quem é de repente.


7 de setembro de 2015

O REI DA DOR


“meu cordel é um  verso de mudança
ô povo acorda, que deitado eternamente
em berço esplêndido não dá”
       MUDA BRASIL

o rei da dor
não rimava
amor
com
dor
ou cor
escrevia um poema na calçada
quando os quatro amigos
saíam do Paço Imperial
Alex Calder – móbiles – passagem
o Rio de Janeiro derretia de calor
era janeiro
o poeta escrevia um poema sem parar
onde haviam estes versos:
“povo esculhambado
deixe de dormir
fique acordado
para não ser roubado”